21 de Ago, 2025
Comunidades denunciam impactos da hidrelétrica Ponte de Pedra no rio Correntes
17 de Jul, 2025

“Me emociono falar da comunidade. Porque antigamente a comunidade Família Bispo era uma fartura. Nós tinha água abundante, nós tinha peixe no rio [Correntes]. Hoje nós não podemos falar o mesmo.”

O relato é de Ieda Bispo, presidenta da comunidade quilombola ribeirinha Porto dos Bispos, localizada em Sonora (MS). Ela e Saulo Moraes, pescador da comunidade Porto dos Pretos, no município de Itiquira (MT), denunciam os prejuízos ambientais e sociais causados pela Usina Hidrelétrica Ponte de Pedra, construída em 2005 no rio Correntes — um dos formadores do Pantanal.

As comunidades Porto dos Bispos e Porto dos Pretos estão há cerca de um século às margens do rio Correntes, na divisa entre Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Com raízes em famílias vindas de Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), mantêm tradições ligadas à pesca, agricultura familiar e turismo, atividades diretamente afetadas desde a instalação da usina.

Segundo os moradores, após a construção da barragem, houve queda significativa na população de peixes e redução do fluxo de visitantes, comprometendo a principal fonte de sustento local. Eles também afirmam que não houve compensações adequadas pelos impactos causados.

“Hoje, devido à barragem, (…) nós não temos mais turista. Acabou os turistas, porque chega aqui no rio, não pega peixe, não tem peixe”, afirma Ieda.

Os efeitos negativos da Ponte de Pedra — e de outras hidrelétricas na bacia do Alto Paraguai — também foram apontados pelo Ministério Público Estadual de Mato Grosso, que registrou alterações no regime das águas, perda da biodiversidade e danos a serviços ecossistêmicos. Mesmo assim, de acordo com as lideranças, as empresas só retornam às comunidades quando precisam renovar suas licenças ambientais.

“Nós somos pouquíssimas andorinhas que vamos batalhar até um dia o pessoal reconhecer que tem que modificar essa ideia de explorar, explorar, e não trazer nenhum benefício para a comunidade”, destaca Saulo Moraes.

Desde 2018, a organização Ecoa acompanha a situação, articulando ações com o Ministério Público, promovendo debates e apoiando alternativas de geração de renda, como os tanques-rede para piscicultura. Ainda assim, as comunidades seguem à espera de reparações e de políticas que assegurem seus direitos.

Da Redação, com informações da Ecoa

Foto: Assessoria




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