No Dia Mundial do Meio Ambiente, a cachoeira Água Branca, localizada em Pedro Gomes , foi oficialmente transformada em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). A criação da área protegida foi formalizada com a assinatura da Portaria ICMBio nº 2081, pelo presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Pires.

A RPPN Água Branca abrange 29,26 hectares e representa uma conquista após anos de mobilização contra a construção de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH), que ameaçava destruir 80% da queda d’água. A medida garante a preservação permanente da cachoeira e possibilita novas perspectivas para o turismo sustentável na região.

“A localização da RPPN é muito estratégica porque ela está na borda de um grande platô, onde acima já existe uma degradação muito grande, com monoculturas e pastagens. E a cachoeira é o fim de um sistema hídrico, que começa nesse platô e desce para a região do Pantanal”, explica Laércio Machado, consultor da Ecoa especialista em criação de RPPNs.

Com mais de 80 metros de queda livre, a Água Branca é a segunda maior cachoeira do estado e integra o Corredor de Biodiversidade Emas-Taquari, na Serra de Maracaju, área prioritária para conservação da Bacia do Alto Paraguai.

O produtor rural Nelson Mira Martins, proprietário da área, comemorou a segurança jurídica trazida pela criação da RPPN, o que viabiliza um antigo projeto de construção de uma pousada no local.

“Quando comprei eu já deixei essa parte pensando em construir uma pousada no futuro. Mas aí parou tudo com a situação da PCH, que queria criar uma usina e acabar 80% da cachoeira. Ia investir como? Aí ficou dez anos essa briga”, relata.

A decisão de transformar a área em reserva ambiental surgiu após a suspensão do processo da PCH. “Qual a melhor forma de proteger? A melhor forma de proteger é fazer uma RPPN, e a Ecoa ajudou a ter mais conhecimento, deu esse caminho para fazer via ICMBio. Porque a licença dessa PCH não foi arquivada, só está suspensa”, acrescenta Nelson.

Segundo Laércio, o processo de criação foi concluído em apenas seis meses, graças ao apoio técnico da organização e à documentação em dia do proprietário. A equipe da Ecoa envolvida no processo destacou a importância da iniciativa para a conservação e o desenvolvimento local.

A região da RPPN possui vegetação semelhante à Mata Atlântica, com grande potencial para o ecoturismo. Além da própria cachoeira, há cavernas, trilhas e áreas para práticas como o rapel. O município também poderá ser beneficiado com repasses do ICMS Ecológico, destinados a cidades que preservam o meio ambiente.

Linha do tempo da mobilização:

1986: Início da compra dos lotes por Nelson.

1991: Expansão da propriedade até a área da cachoeira.

Anos 2000: Projeto de PCH ameaça reduzir drasticamente o volume da cachoeira.

2019–2024: Mobilização intensificada com apoio do MPMS, campanhas e reportagens.

Maio de 2024: Projeto da usina tem licença suspensa em níveis estadual e federal.

Junho de 2025: ICMBio assina a portaria de criação da RPPN.

Os próximos passos incluem a elaboração do plano de manejo da área e o desenvolvimento de infraestrutura para receber visitantes. A RPPN poderá firmar parcerias com instituições como o Sebrae e a Secretaria de Turismo, além de acessar recursos como os do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO).